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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cinema Nacional: "As Aventuras de Agamenon" X "2 Coelhos"


Não posso dizer que tive uma grande decepção com "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" porque - confesso - desde o início já não esperava muito de um filme roteirizado e produzido por dois cassetas. Porém, com a divulgação massiva e o trecho estratégico utilizado para o trailler reproduzido exaustivamente na TV, cheguei a acreditar que o filme poderia ter um enredo engraçadinho e resolvi dar uma chance. Mesmo porque eu até gosto da coluna do Agamenon no jornal (pra quem não conhece, vale conferir o blog). Infelizmente, tudo que eu posso dizer é que perdi uma hora e quinze minutos da minha vida assistindo a uma versão cinematográfica do Casseta & Planeta. Ou, melhor dizendo, foi como assistir a um pout-pourri de episódios de um mesmo quadro do Casseta & Planeta. A base - e o núcleo e todo o resto - do filme são as piadas de gosto duvidoso (leia-se: grosseiras) e sem graça típicas da versão televisiva dos cassetas.
Pra não dizer que não ri at all, admito que esbocei uns 3 sorrisos ao longo do filme e dei uma risadinha leve (daquelas tipo ":| : ) ...hehe... : ) :|" ) por conta de uma bobagem qualquer. Mas chamar o filme de "a maior comédia de todos os tempos" é uma ofensa à inteligência do espectador. Não dá nem pra chamar de maior pastelão de todos os tempos. Já vi pastelões melhores.
Muito me surpreendeu também o fato de personalidades como Caetano Veloso, Fernanda Montenegro, Pedro Bial e até mesmo Fernando Henrique Cardoso (sério, CHOQUEI!) terem topado participar de um filme tão queima-filme. Self-respect manda lembranças a estes digníssimos senhores e senhora.
Da mesma forma me surpreende a mídia encher a boca pra divulgar que 700 mil pessoas já assistiram quando, posso apostar um saquinho de balas 7Belo, que metade desses espectadores não gostou e um terço delas nem aguentou até o final. Na sessão que assisti, umas 10 pessoas saíram antes do fim (e não eram só velhinhas pudicas e senhores conservadores. Vi muito casal jovem abandonando a sessão no meio). Eu só fiquei até o fim porque sou guerreira e ainda esperava que fosse haver uma guinada melhorando aquela bostmba. É óbio que tal guinada não ocorreu. E olha que eu sempre consigo encontrar algum aspecto positivo nos filmes que assisto. Pra eu dizer que um filme é ruim de todo, é porque - podem acreditar - nada nele se salva MESMO. Concluí, então, que o Agamenon funciona melhor no papel do que na tela.

E aí, por alguma razão obscura, enquanto a mídia tenta nos forçar um filme ruim goela abaixo, "2 Coelhos" é um filme nacional EXCELENTE, com atores de qualidade (dentre os quais, Alessandra Negrini e Caco Ciocler), mas praticamente sem divulgação! Com um cartaz de pouco impacto (faltou estratégia de marketing visual ali), somado ao fato de os comentários sobre o "Agamenon" estarem dominando a parada, acabei assistindo o "2 Coelhos" totalmente por acaso (naquelas de ir comprar o ingresso na hora e ser o único filme com horário bom, sabe?) e tive uma grata surpresa. É um mix de ação, suspense e românce (classificado pelo Ministério da Justiça como genêro "sobrevivência") ao mesmo tempo inteligente e com ritmo acelerado. Os saltos no tempo tem um "quê" de Tarantino e, apesar de deixarem o espectador um pouco confuso, realmente prendem a atenção.

Pontos que merecem grande destaque são os grafismos presentes em diversos momentos do filme e os efeitos especiais alucinantemente bárbaros! É chato dizer isso porque meio que desqualifica tecnicamente nosso cinema, mas, posso falar? Nem parece filme nacional. Na minha humilde opinião, o filme está apto (e seria um forte candidato) a concorrer ao Oscar ou algum prêmio internacional ao lado de grandes produções estrangeiras.

E aí eu me pergunto: por que cargas d'água este filme não está sendo divulgado?? Por que, raios, está perdendo espaço para a trolha do Agamenon??? Será que é porque o roteirista e diretor Afonso Poyart era um sujeito desconhecido no universo cinematográfico ("2 Coelhos" foi seu primeiro longa-metragem), competindo contra Marcelo Madureira e Hubert, dois globais cheios de contatos? Ou será que é porque está sendo assumido que o povo brasileiro tem a profundidade intelectual de uma colher de chá e, assim, investir na publicidade de um pastelão que não tem nada a ser assimilado tratia mais retorno do que investir na publicidade de um filme que obriga pensar?
Alô, Brasil! Não dá pra se acomodar assim, né? Vamos parar com essa preguiça mental e prestar mais atenção no que vale a pena.

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